Na penúltima edição do gibi, Peter Parker começa a organizar o contra-ataque ao Doutor Octopus — e Dan Slott nos traz mais uma HQ abaixo da média
Atenção: resenha com spoilers da edição e para quem acompanha os gibis da Marvel que são publicados no Brasil
Felipe Vidal
Tic-tac, tic-tac. O tempo está passando. A vida está acabando. Este é o panorama do Amigão da Vizinhança em Amazing Spider-Man #699 (Marvel Comics, 22 páginas, US$ 3,99), publicado nesta quarta-feira (5/12) nos EUA — e que pode ser comprado pelos brasileiros em Marvel.com. Depois dos eventos da edição 698, o Doutor Octopus trocou de corpos com o Homem-Aranha. Agora, Doc Ock tem todas as memórias, a saúde, poderes e o corpo de Peter Parker, enquanto o bom e velho Aranha está preso no corpo moribundo do vilão, que tem mais algumas horas e está preso na prisão de segurança máxima A Balsa.
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Depois da edição anterior, que até tem uma boa história e acaba de forma péssima, revelando a troca de corpos, ficou difícil imaginar como o roteirista Dan Slott daria um fim a analógica Amazing Spider-Man e a história de Peter Parker como o Homem-Aranha (ao menos por enquanto). Como você já sabe, em janeiro teremos a estreia de Superior Spider-Man, com um novo cara usando a máscara do Escalador de Paredes. Por isso tudo, a expectativa ao ler a edição 699 era uma das mais baixas possíveis.
Só que Slott consegue ser ainda PIOR.
Na edição anterior — e como o Pete no corpo do Doc Ock relembra no começo do novo gibi — o vilão disse que nunca contaria como realizou a troca de corpos entre os dois. No Hangout que fizemos, ao vivo, na semana passada até comentamos que Octopus não era tão burro e, provavelmente, deve ter tomado algum cuidado para apagar da memória dele próprio quando fez a troca. Que nada. Após raciocinar um pouco, Peter busca nas memórias do corpo onde está como tudo isso foi feito e… Ele descobre!
Sério. Pensa em um grande vilão com apenas UMA ÚLTIMA chance de se vingar e, ao mesmo tempo, ganhar uma nova vida. É de se esperar um plano sem falhas, né? Que nada! Deixa o herói lá, com todo o caminho das pedras para reverter esse plano!
Aliás, a explicação dada é pra lá de estranha. Nada de voodoo, troca de corpos ~cientificamente~ comprovada ou coisas assim. Na real, foi o próprio Aranha que abriu a brecha para o vilão ao usar a tecnologia do Octopus por umas três vezes nas últimas 100 edições – sendo a última na saga Ends of the Earth, quando ele a emprega na “Spider-Armor”, aquele novo uniforme. Isso tornou possível que Octopus programasse um octobot (que estava por aí há tempos, apenas aguardando a hora do plano final) para atacar Peter sem ele perceber e, aí sim, reescrever a mente do herói com os padrões mentais do vilão – e vice-versa.
Pra mim, ninguém trocou de corpo. Apenas temos um Homem-Aranha que pensa ser o Doutor Octopus e o Doutor Octopus que pensa ser o Homem-Aranha, mas até aí… Sou eu, mais uma vez, reclamando da falta de lógica de um gibi estrelado por um cara que anda por aí pulando entre prédios com teia sintética.
Sabendo do plano, fica mais fácil para que Peter Parker controle o tal do octobot que causou tudo isso e convoque vilões para tirá-lo da prisão. Nesse momento, Slott até tenta “brincar” com a consciência do cara, que provavelmente também está sendo aterrorizado pelas lembranças malignas do Doc Ock, algo que realmente poderia afetar o julgamento. Só que a história é rasa nisso. Parker fica o tempo todo dizendo pra si “lembre-se que eu sou o Homem-Aranha, lembre-se que eu sou é o Homem-Aranha”. Sério, dava pra ir ALÉM.
Não é só isso. Como até comentamos no Hangout, Peter Parker tem todas as memórias do Octopus, inclusive em relação ao casamento do vilão com a tia May ainda na época clássica. A história brinca com isso também, com Peter lembrando da titia chamando o Otto pra brincar de médico.
Ah, vai, até que é engraçado. Só que a HQ é tão ruim que isso aí fica parecendo uma paródia do Homem-Aranha do que uma revista publicada pela Marvel.
Se a história é ruim, ao menos o Humberto Ramos demonstra uma evolução na arte. Não chega a ser sensacional – afinal ele nunca será – mas ao menos fica mais próxima daquela intenção de homenagear o estilo do Steve Ditko.
Slott deixa alguns ganchos para serem resolvidos na próxima edição. Como acontecerá a “destroca” de corpos? Qual será o fim do Doc Ock? O que irão aprontar para o Lagarto (que faz uma ponta nessa edição avisando que, agora, tem a consciência do Dr. Curt Connors)?
Chutaria que, no final de tudo, Peter consegue voltar ao corpo, mas algo no processo passará os poderes dele para outra pessoa. Ou um Dr. Estranho da vida vai ver o Aranha sem poderes por causa de alguma merda na troca e vai sugerir trazer o Miguel O’Hara, do Universo 2099, para cá apenas para substituí-lo. Duas saídas ruins.
Vamos lá, Dan Slott. Surpreenda-me. O Homem-Aranha — e os leitores — merecem MUITO mais.